A partir da segunda metade do século XVIII, a Europa passou por uma
série de mudanças.
A Inglaterra, primeira potência econômica do mundo, iniciava a sua
Revolução Industrial e as indústrias inglesas necessitavam cada vez mais de
mercados consumidores.
A França por sua vez, que já havia derrubado o absolutismo e o
mercantilismo implantando o liberalismo político e econômico, consolidou a
Revolução Francesa com Napoleão Bonaparte no poder, e por meio de guerras
expandira os ideais revolucionários pela Europa.
O século XIX se inicia com a inevitável ameaça de guerra entre as duas
potências. A Inglaterra buscava se firmar como nação industrial e para a França
interessava a hegemonia no continente europeu, além de desenvolver a sua
indústria.
Diante do equilíbrio no potencial bélico das duas nações, uma vez que a
França possuía o mais poderoso exército e a Inglaterra a mais incisiva marinha
de guerra, e após vitórias e derrotas de ambos os lados, Napoleão resolve
arruinar a Inglaterra economicamente decretando o Bloqueio Continental (1806).
Através deste as nações européias ficavam proibidas de comerciar com a
Inglaterra.
A partir daí a situação de Portugal começou a se complicar. Como era
dependente do comércio e do capital britânico, Portugal não podia fechar seus
portos aos navios ingleses, sob ameaça de arruinar a sua economia, e por outro
lado, descumprir as determinações de Napoleão era um suicídio, pois significava
a invasão do país pelas tropas de Bonaparte.
Pressionado de todos os lados, D João tomou uma importante decisão:
transferir a Corte portuguesa para o Brasil. Assim, em novembro de 1807, o
príncipe regente, com a ajuda dos ingleses, deixou a cidade de Lisboa, capital
portuguesa por setecentos anos, levando consigo o dinheiro do Tesouro,
funcionários da administração e 15 mil cortesãos, rumo ao Rio de Janeiro.
Assim que chegou a Salvador, D. João assinou um decreto abrindo os
portos brasileiros às nações amigas, acabando com o pacto colonial. A medida
beneficiou o Brasil, que se integrava ao mundo e gerava receita para o Estado,
e a Inglaterra, que tinha agora um enorme e lucrativo mercado consumidor.
A vida econômica e comercial do Brasil se modernizava. Foi criado o
Banco do Brasil, com o objetivo de emitir dinheiro para cobrir o “déficit”
gerado com a manutenção da Corte e o Alvará de Liberdade Industrial (1809),
acabando com a antiga proibição de produzir manufaturados no Brasil.
Em 1810, foi estabelecido o Tratado de Livre Comércio e Navegação, pelo
qual os comerciantes ingleses passaram a pagar 15% de imposto sobre os produtos
importados, taxa menor do que os outros países (24%) e até mesmo que Portugal
(16%). Tal medida provocou a queda dos preços dos produtos importados, mas por
outro lado limitou quase que definitivamente a possibilidade de crescimento
industrial do Brasil.
O Brasil tinha de ser mercado consumidor de produtos industrializados
ingleses e não mercado produtor concorrente. O país não possuía mão-de-obra
especialidade, capital e tecnologia necessários para a montagem de um parque
industrial, e mesmo que isso acontecesse as indústria não suportariam a
concorrência dos produtos ingleses, mais baratos e de melhor qualidade.
No campo político O Estado português teve que ser completamente recriado
no Brasil, não se tratava só de transferir para a colônia o parelho estatal
lusitano e sim construir um novo Estado. Toda a máquina administrativa,
religiosa e militar foi montada cargo a cargo e a nova classe dominante foi
transformada em proprietários de terras e de escravos.
Com a derrota de Napoleão os países vitoriosos organizaram o Congresso
de Viena, e para que Portugal, que estava ocupado pela Inglaterra, pudesse
participar do Congresso, D João elevou o Brasil, então sede da monarquia
portuguesa, à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves. Se o Brasil havia
deixado de ser economicamente uma colônia com a abertura dos portos, agora
deixava de sê-lo politicamente.
Para a burguesia comercial portuguesa, que já havia perdido os vultosos
lucros do pacto colonial, via agora a transformação da maior colônia lusa em
reino. Em razão disso interessava a essa elite a volta do da família real para
Lisboa e o restabelecimento do pacto colonial.
Como a família real não dava sinais de que retornaria a Portugal a
solução seria a revolução, derrubando a monarquia de D. João e implantando uma
república. Em 1820, os revoltosos tomaram o poder e formaram as Cortes
Constituintes, forçando D. João a retornar a Portugal.
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