segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Auschwitz foi demais!

"Desde muitos anos os anti-semitas do mundo inteiro nos vêm advertindo que o judaico projeta a destruição da humanidade. Pelo momento e enquanto espera essa misteriosa operação, o anti-semitismo se dedica a operação inversa, a única que se tem notícia efetiva. Em seis anos aniquilou-se mais da terceira parte da população judaica do mundo." - Ernesto Sábato - “Apologías y Rechazos”, 1990.

Quando as tropas do 60º Exército de Infantaria soviético comandadas pelo cel-general P. Kúrochkin, adentraram no campo de Auschwitz em Oswiecim na Polônia no dia 27 de janeiro de 1945, o mundo finalmente entendeu a que dimensões podia chegar a palavra horror. Não que a descoberta de campos de extermínio fosse uma novidade. Afinal, na ofensiva de verão de 1944, os soviéticos já havia se deparado com Maidaneck, perto de Lublin, espantando-se com o que encontraram. Espectros humanos vagam ali como sobreviventes, gente com pele sobre os ossos que mal esboçava sequer um agradecimento pela libertação. Nas trincheiras, ainda insepultos, empilhavam-se cadáveres esquálidos, enquanto que pelos pátios e galpões, pilhas de roupas, de malas, de cabelos e de óculos, serviam como testemunhos silenciosos daqueles que foram apresentados ao reino do inferno.

Mas a descoberta de Auschwitz, de fato, superou tudo o que haviam visto antes. Mesmo depois que os americanos, vindos pelo ocidente, chegaram a Buchnwald, Belsen ou Dachau, constatou-se que campo de Auschwitz superava tudo em matéria de horror. Assemelhava-se a uma bocarra de um vulcão assassino, construída pela mão do homem. Lá, mais de um milhão e meio de pessoas haviam perecido, sendo que a grande parte deles gaseados e incinerados em fornalhas que, segundo os testemunhos, não pararam nunca de funcionar.

Mesmo para o povo judeu que tinha em seu passado um assombroso histórico de martírios, de banimentos, de expulsões, de escravizações, de rebeliões sufocadas a ferro e a fogo, Auschwitz foi demais. Nenhuma malignidade anterior, por mais pervertida e perversa que fosse, poderia ter projetado aquilo. Mesmo entre os judeus, com seus profetas, seus messias, seus iluminados, nenhum dos seus reis, nenhum dos seus afamados rabinos, nenhum dos seus ficcionistas pôde prever a possibilidade de existir, algum dia, um campo como o de Auschwitz.

Nenhum dos inimigos históricos do povo judeu, como o orgulhoso e insano rei Nabucodonosor, como Antigono Epifanes, como o general Tito, como o Imperador Adriano ou o inquisidor Torquemada foram capazes sequer de esboçar algo tão terrífico como Auschwitz. Para os que acreditavam na inevitabilidade do progresso, no constante aperfeiçoamento ético dos seres humanos, na intrínseca bondade natural de todos nós, Auschwitz surge como a grande esfínge do século XX. Mostrou, entre tantas outras coisas, que apesar dos avanços espetaculares da nossa civilização, ela não estava livre de regressões tão primitivas, capazes de envergonhar inclusive quaisquer dos chefes bárbaros do passado.
Fonte: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/auschwitz.htm

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